Rodrigueano

O jogo de hoje só comprovou o que todos já sabem: com time bom ou ruim, em boa ou má fase, o Flamengo é Nelson Rodrigues puro. Ninguém imaginava aquele começo arrasador, e depois disso ninguém esperava levar 4 gols e voltar a ser freguês do genérico paranaense - agora dentro de casa. Este é um elenco humano, demasiadamente humano. Não se enxerga nas nuvens e desmorona ao primeiro revés. Até o final de 2013 essa é a vida como ela é, na alegria ou na tristeza.


Hernane, aquele que broca os arautos da estatística, fez o dele antes que o torcedor se desse conta de que era verdade. O improvisado Luiz Antonio tirava da cartola uma boa atuação cheia da raça que há tempos o abandonara. Gol de quem está a fim. Bola na trave, sustos mil, e o Atlético sensação do campeonato parecia uma donzela encurralada.

O mesmo Hernane que nunca deve se atrever a dar mais de um toque na bola, perdeu e armou um contra-ataque que não seria tão devastador. Mas a defesa do Fla, cheia da boa educação com as visitas, foi deixando a banda passar. Levamos gol de um ser chamado Fran Mérida, e Nelson Rodrigues começava a sorrir no túmulo.

Como em tantas outras partidas, o primeiro gol fez cair o castelo de cartas rubro-negro construído no suor e sangue de Mano Menezes. Um time completamente inseguro - e se você ainda duvida, a falta de confiança de Paulinho estava tatuada em sua pele.

Aí o Atlético lembrou quem era e voltava o sofrimento semanal da torcida do Flamengo. Hernane voltava pra roubar bolas enquanto João Paulo e Paulinho se arrependiam de ter escolhido a carreira de jogador de futebol.

E de que adianta deixar Elias se arrastando em campo? Se já não faz a diferença marcando, a maratona de jogos definha sua criatividade. Precisa voltar 100% ou o Flamengo começa com menos um em campo, o que é um catástrofe anunciada.

Tenho que defender Mano Menezes. Obrigado a fazer sopa de pedra sempre, uma hora se deparou com Hernane cansado e Carlos Eduardo sem nada acrescentar. O camisa 20 já foi julgado e condenado pela torcida, mesmo quando joga razoavelmente. É melhor que Gabriel, Nixon, Paulinho... Mas não deve vingar com uma oposição caseira dessas.

E o torcedor que sempre pediu Adryan, foi atendido. Só que Adryan parece um garoto nascido e criado em condomínio da Barra, nunca passou perrengue na vida, nem sequer um ônibus lotado. Aos 19 anos já foi alçado a craque, pegou a Musa do Brasileirão e tem multa de rescisão de contrato milionária. Nunca vou esquecer de sua comemoração "sou foda" quando fez um gol de falta à la Zico.

Assim, entra em campo sempre fora do tom. Não foi à toa que Mano o citou na coletiva de ontem, era uma maneira de chamá-lo à realidade. Pela bola que deu origem ao terceiro gol, deu pra ver que o caminho é longo.

Aí a dramaturgia só ganhava os contornos rodrigueanos. À sombra das chuteiras imortais de sua história o Flamengo ouvia que era um time sem vergonha. A ira da torcida era a de um cunhado incestuoso. O time beijou o asfalto com o quarto gol.

Que fazer? O orçamento é esse, com seu time correspondente. O jogo do ano já não é contra o vice-líder Botafogo na eliminatória da Copa do Brasil, mas contra o lanterna absoluto Náutico em Pernambuco. Alguém espera algo menor que uma tragédia grega, mesmo em caso de vitória?

Eu finalizava esse texto quando fiquei boquiaberto com a demissão de Mano. À essa altura da temporada, mais rodrigueano impossível.