sexta-feira, 29 de abril de 2011

Reizinho de corpo, alma e caráter


Não sou vascaíno. Mas se alguma vez gostaria de ter sido foi naquela virada histórica contra o Palmeiras na final da Copa Mercosul de 2000. Foi exatamente o que pensei quando Romário fez o quarto gol: ''Caramba, se eu fosse vascaíno estaria orgulhoso agora".

Aquela virada começou aos 15 minutos do segundo tempo (!), com um gol de Juninho Pernambucano, num chute que misturava técnica e raça, como foi sua comemoração. Sequer correu afobado para dentro do gol a fim de recomeçar logo o jogo, precisava curtir aquele momento com a torcida. Garra e atitude de um jogador querido e decisivo.

Juninho não teve marra nem quando merecia ser titular absoluto na Copa de 2006. Injustiçado como Ademir da Guia (que disputou apenas uma partida na Copa de 74) o Reizinho fez um gol contra o Japão e não voltou mais ao time. Se estivesse em campo contra a França, sua raça e seu comprometimento poderiam ter reescrito a história daquele jogo.

Um dos poucos jogadores eternizados em música de torcida mesmo após sua saída (pelo seu gol contra o River Plate, na Libertadores de 1998, "sensacional"), Juninho agora retorna ao Vasco ensinando a muito me(r)dalhão por aí o que é ser ídolo.

Claro que ninguém é obrigado a voltar para o Brasil ganhando, literalmente, um salário mínimo. Mas o pŕoprio craque dizer, publicamente, que não tem vaga cativa no time, que só vai jogar se estiver rendendo o necessário, é coisa raríssima. Talvez só Ronaldo Angelim se porte dessa maneira, mas está a anos-luz do talento de Juninho.

Ele poderia ter dito isso tudo ao treinador, nos vestiários. Mas dizer aos quatro ventos é porque sabe que o mais importante é sua palavra, acrescida da credibilidade necessária. Juninho não tem medo de ser cobrado, e para isso abre o jogo e coloca tudo nas devidas proporções. Foi transparente até na questão da concentração.

Seu mote é fazer a alegria da torcida, e uma dessas condições é não dar prejuízo ao clube, dentro ou fora do campo. Pra quem teve recentes experiências com "Cazalbertos" e afins, é uma prova de amor e tanto.

Ao agir assim antes mesmo de chegar, Juninho mostra que tem um caráter acima da média dos boleiros de seu tempo. Dá um exemplo tremendo para os jovens cruzmaltinos e coloca em xeque as loucuras via marketing ou cotas antecipadas de TV que os dirigentes de clubes teimam em fazer. E que os egoístas medalhões aceitam sem pestanejar, nem aí pra relação com torcida ou coisa que o valha.

E como se tudo isso fosse pouco, ao dizer tudo o que disse na sua volta à Colina, Juninho me fez pensar novamente: se eu fosse vascaíno, que orgulho eu teria agora.